Quando vi o Niva pela primeira vez nas ruas do Rio de Janeiro, no começo da década de 90, confesso que fiquei um tanto quanto intrigado com aquele carro. Até então estávamos acostumados com as caminhonetes e picapes da Ford ou Chevrolet, no máximo alguns Jeeps Willys e Rurais, e o Niva tinha algo diferente. Não sei se era o visual misturado à mística e o folclore que envolvia o apelo de ser um carro russo, coisa que naquela época passava a impressão de algo robusto, confiável e indestrutível, mas o fato é que o Niva transmitia uma sensação de superioridade e, mesmo lembrando uma mistura de Fiat 147 com Brasília, ele conferia automaticamente a seu motorista uma posição de destaque no meio do trânsito urbano.
Em 1996 enfim, consegui juntar um dinheirinho para comprar meu primeiro carro e, como não poderia deixar de ser, procurei me informar um pouco mais sobre o Niva. Quis saber quanto custava um Niva usado, mas não tinha muitas esperanças, pois tinha certeza de que estaria acima do meu orçamento. Fiquei surpreso quando descobri que o preço era em média menor do que o que se pagava por um "carro popular" usado.
Nesse momento, adquirir um Niva passou a ser uma tarefa possível para mim, e isso só já seria suficiente para me animar bastante, não fosse a confusão que tomou conta da minha cabeça, vendo tanta gente falar mal do carrinho. Já tinha ouvido pessoas falarem muito bem dele, em tom de devoção e paixão, mas também já tinha ouvido pessoas falarem horrores dele. Seria só preconceito de alguns?
Claramente eu precisava no mínimo me informar melhor, antes de decidir torrar meu suado dinheirinho num Niva usado. Foi procurando amigos de amigos que tinham ou já tiveram Nivas que acabei conhecendo não só o carro, mas o mundo OffRoad e tudo mais que o cerca. Corri atrás, ligava para pessoas que me indicavam outras para ligar e fui estabelecendo uma rede de contatos que envolvia muita gente. Ouvi opiniões de todo o tipo de pessoas. Proprietários satisfeitos ou não, revendedores, mecânicos e etc.
Depois de muito ouvir, cheguei à conclusão de que o Niva tinha mais qualidades que defeitos, naturalmente levando-se em consideração a natureza deste carro e ao propósito que ele se destina. E percebi que o erro das pessoas era tentar ficar comparando o Niva com um carro de passeio. E os preconceitos e queixas vinham justamente desta comparação equivocada. Definitivamente o Niva não é um carro de passeio, pelo menos não dentro do padrão atual. Ele é um Jipe. E como tal, em sua categoria, é um dos melhores e mais confortáveis do mundo, tendo ainda a vantagem de possuir um sistema de tração 4x4 full time muito bem pensado, com bloqueio de diferencial central e caixa de redução.
Certa vez eu estava numa concessionária autorizada Lada aqui no Rio "paquerando" um Niva 0Km ano 1995 quando vi uma pessoa perguntando o preço para um vendedor. Esse cliente estava interessado num carro que pudesse levá-lo à sua fazenda, cujo acesso era complicado para um carro de passeio. Quando o vendedor mencionou o preço do 0Km, o sujeito entortou o nariz e reclamou, argumentando que era o equivalente à um "carro comum" zero bala. O vendedor então retrucou, dizendo: "É... realmente é isso mesmo. Só que o senhor não vai conseguir chegar à sua fazenda com um carro comum. Já com o Niva vai ser muito fácil, pois ele foi feito para isso. E o senhor não vai conseguir, para este propósito, nada que se compare ao Niva sem ter que desembolsar pelo menos o dobro O Niva é de longe o 4x4 de melhor custo-benefício do mercado. Neste quesito ele é imbatível."
Está aí talvez a característica mais marcante do Niva. A relação custo-benefício. Sem dúvida que se eu tivesse dinheiro para comprar um SUV importado, cheio de conforto e tecnologia, eu compraria. Só que além de comprar, é preciso manter também e é nessas horas que a gente vê o dinheiro indo embora. A diferença de custo de manutenção entre o Niva e os demais 4x4 é muito grande, chega a ser um absurdo se comparado com Land Rovers, Cherokees e similares. Inacreditável!
Então precisamos separar as coisas. Se você pretende comprar um carro para ir passear no Shopping, não compre um Niva. Ele é duro, quente, feio e não dá Ibope entre as patricinhas. Agora, se você gosta de viajar, curtir a natureza, se você quer mais que um carro, quer um companheiro e não tem muito dinheiro para gastar com um SUV cheio de status, então seu carro é o Niva. Procure um Niva usado em bom estado e aos poucos vá dando a sua personalidade à ele. Estou no meu segundo Niva e comprei ele sem pressa. Após 3 meses procurando, encontrei meu carro ideal e não tenho do que reclamar, muito pelo contrário.
O Niva não é um carro ruim de se dirigir. Muita gente tem sido injusta com ele. Tive um Uno Mille comprado 0Km que tinha a direção mais dura que o meu primeiro Niva. A mala era do mesmo tamanho e, quanto ao conforto, não via lá muita diferença não. E além disso, hoje em dia já é possível colocar ar condicionado, bancos confortáveis e com um pouco de imaginação dá pra adaptar vidros elétricos e outras coisas que vão deixar o Niva bem mais gostoso de se dirigir e bem mais agradável para longas viagens.
Nunca tive problemas com relação à mecânica e peças de reposição. O Niva tem uma mecânica de concepção antiga sim, mas muito simples e de conhecimento de qualquer mecânico decente. Além disso, seu motor é duradouro e confiável, naturalmente se você não se descuidar da manutenção preventiva. Um pouco fraco, é verdade, poderia ser mais potente, mas isso hoje em dia não é mais problema, pois já existem kits para adaptação do Niva para o motor Volkswagen AP 1.8 e 2.0, presente nos Santanas, Gols e etc. E não se trata de trabalho artesanal não, é engenharia séria e muito bem feita. Mas mesmo para o motor original, existem peças nacionais que podem ser usadas perfeitamente, sem necessidade de adaptação. Ou seja, com um Niva você não está 100% dependente do estoque de peças originais na rede credenciada.
O Niva está presente no mundo inteiro. Existem Nivas rodando na Austrália, França, Inglaterra, Itália, Canadá, Uruguai e etc. A Lada tem modelos novos, mais modernos, bonitos e parecidos com SUVs atuais como esses Grand Vitaras da vida, naturalmente guardando-se as devidas proporções. Existem na Europa modelos à Diesel, versões 4 portas, caminhonetes e etc.
No Brasil, infelizmente, sofremos com leis de restrição à importação de veículos impostas principalmente a partir de 1995 que acabaram por classificar erradamente a categoria do Niva. Com isso surgiram problemas para importação de modelos novos e as altas alíquotas fizeram com que deixasse de ser compensador e lucrativo trazer até mesmo esta versão do Niva que é mais conhecida pelos brasileiros. Tanto que o Boom do Niva desapareceu e modelos pós 1995 existem, mas são mais difíceis de se encontrar por aí. Existem Nivas 0Km à venda no Brasil. Trata-se de uma versão com Injeção Eletrônica padrão GM (a mesma do Corsa), motor mais potente e econômico. No visual, o carro é basicamente o mesmo, apenas com um painel mais bonito, bancos mais confortáveis e porta traseira mais bonita e prática. E enquanto que no Uruguai este mesmo carro é vendido no máximo por 7 mil dólares, no Brasil dificilmente sai por menos de 12 mil dólares. E com a cotação do dólar aonde está, fica realmente desanimador investir num Niva zerinho.
Mas com certeza o mercado brasileiro para o Niva existe e está carente. Talvez uma reformulação do processo de importação junto à fábrica ou então uma revisão da classificação do Niva na atual lei de importação de veículos, possa fazer renascer o boom deste valente russinho. Mas quanto à isso eu não tenho nenhum ou tenho pouco poder de influência, só me resta mesmo como consumidor, pelo menos até este momento em que escrevo minha história, torcer para que as coisam tomem o rumo certo.
Por hora, a melhor maneira que encontrei para sair em defesa do Niva e contribuir com minha modesta experiência com os demais proprietários, bem como ajudar aqueles que de alguma forma se interessam ou precisam de informação sobre o Niva, foi tomar a iniciativa de levar adiante a ideia do NivaSite. E para isso, conto também com a ajuda de amigos e de todos que se interessam pelo tema, seja me mandando relatos, soluções, matérias ou simplesmente me enviando mensagens via e-mail, dando força para enriquecer este espaço. A estas pessoas só tenho o que agradecer e dizer que o NivaSite hoje é uma realidade e a responsabilidade por mantê-lo é algo que só me motiva mais e mais e a cada dia que passa.
Um forte abraço a todos, e divirtam-se a bordo de um bom Niva!
Para saber muito mais sobre o Niva, convido você a se inscrever em meu canal do YouTube.
R E L Á T O 4
Nome: Alvaro Melo
Cidade : Rio de Janeiro
Copyright© 2002 NivaSite. Todos os Direitos Reservados.
Niva: injustiçado e incompreendido!
Há algum tempo observo que
proprietários de Nivas se queixam das brincadeiras que são alvo por parte de
outros jipeiros, especialmente os donos de jipões caros, importados e cheios de
"status". Contudo, há uma turma que tem Niva e curte o jipinho numa boa,
assim, como tenho alguma experiência sobre o assunto, presto meu depoimento a
quem interessar possa!!
Definitivamente: o Niva é um
carrinho sofrível e um excelente jipe! Tive um Niva dos primeiros, 90/91
comprado zero em jun/91. Na época minha frotinha era constituída por 'uma Band
89 curta de aço, completíssima de fábrica (só não veio com guincho mecânico) e
incrementada em casa (freio a disco nas 4 rodas, guincho elétrico, rodões,
pneuzões, etc, etc), um CJ-5 (o Mike que está conosco até hoje) e uma F-75 4x4,
azulona e bem equipada que fazia muito sucesso em Paty do Alferes (a F-75 até
hoje é a camionete preferida dos plantadores locais) onde ficava guardada.
Minha mulher que dificilmente nos
acompanhava até em passeios mais "light" porque sua coluna não
permitia, passou a sair conosco graças ao Niva. Como ele é extremamente
vocacionado para estradinhas de terra, com costelas de vaca, valetas e outras
surpresas normais, ela passou a achar tudo perto, pois com a tração permanente
e a suspensão semi-independente, dava para andar com o pé na lata e dar a
ilusão de trajetos menores, com os outros 4x4 isso era totalmente impossível.
Nessa ocasião, o JC/RJ Inaugurou
uma trilha noturna (trilha da Manchete) que já era considerada brava mesmo de dia.
Preparei-me para ir na Band, mas em cima da hora apareceu um convite pra
alugá-la para um comercial da Coca-Cola e o Fábio, meu filho, na época ainda
estudante de engenharia em véspera de provas, ofereceu-se para levar a Band
para a filmagem onde poderia ficar estudando enquanto eu iria para a trilha com
o Niva.
Na trilha juntei-me ao único
niveiro presente, nosso companheiro Fred (10 Niva no JC/RJ - está com ele até
hoje e nunca lhe deu boa-vida...) e pelo PX ficamos trocando figurinhas e
temores tipo: como está a temperatura do teu? Reduziu? Usou bloqueio nessa? Os
nivas nem bola, fizeram a trilha toda numa boa. Com 800 km rodados o meu estava
dentro de um rio, na Bocaina cuja saída já denotara outros 4x4 e lembro ainda
de ouvir comentários do tipo "o cara é maluco, vai entrar com o Niva
zerinho" e o bichinho deu show: entrou saiu e tudo mais. Na volta, embaixo
de chuva só fiquei frustrado porque os outros 4x4 se divertiam derrapando na
lama e o Nivinha, sempre levando tudo a sério com seu 4x4 permanente passava
reto em tudo.
Aposentei-me em 92, encerrando
uma carreira de 28 na PETROBRAS e para passar o tempo associei-me a um velho
companheiro que tinha uma loja especializada em compra e venda de veículos 4x4.
Cansei de atender pessoas que chegavam com uma graninha curta e pediam para que
arrumássemos uma Toyotinha 78, 79 que coubesse naquele orçamento. Dificilmente
se conseguia algo que prestasse com essa idade até porque havia muito pouca
Band rodando em mãos de particulares. A maioria vinha de empresas de ônibus,
fazendas e de outras atividades pouco serenas.
Normalmente eram carros
judiadíssimos, além de queixo-duro e sem reduzida (sincronizadas só a Y e 4a
marchas, lembram?). Nosso conselho sempre era de optar pelo Niva, cuja relação custo-benefício
era excelente (conseguia-se um zero, por menos de US$ 9 mil) A maioria ficou
satisfeita e alguns ficaram amigos até hoje.
No entanto é preciso salientar
alguns aspectos negativos, tais como: O controle de qualidade da Lada era
praticamente inexistente o que gerava uma série de pequenos problemas, chatos,
mas normalmente fáceis de resolver, A rede de concessionárias organizada às
pressas estava cheia de aventureiros ávidos por dinheiro, pouco técnicos e
pouquíssimos dispostos a resolver problemas de clientes. Os outros carros da
Lada, Laika (robustos e resistentes) e Samara que sofriam dos mesmos males do
Niva sem possuírem os mesmos atributos contribuíram ainda mais para prejudicar
a imagem da fábrica e seus representantes no mercado, A mídia especializada,
sempre atrás de assuntos empolgantes, resolveu cair de pau nos carros, sem
distinção (reparem que elogios ao Niva só se encontram em revistas de off-road,
quando ocorrem...).
Na verdade, quem conhece e gosta
de off-road, sabe o valor do jipinho. Vide teste da Jipemania sobre o novo
Niva, realizado e escrito pelo Roitberg, que na minha opinião é o jornalista
que mais sabe e melhor escreve sobre o off-road, daí inclusive minha preferência
por essa revista.
Muita gente (especialmente mulheres, nada
contra elas, apenas relato fatos) comprou o Niva por que era uma
"gracinha". O desencanto consequente era também normal. Para o tipo
de uso que elas davam ao carro, qualquer Uno era mais rápido, muito mais
econômico e também era gracioso! Imaginem: pagar uma grana para ter um zerinho
e descobrir que ele só fazia uns 6 a 7 km/l, andava pouco e ainda soltava a
maçaneta na mão. O ar quente não desligava, o pedal do acelerador era alérgico
a pés delicados e o volante original com aqueles desenhos decorativos dignos de
uma penteadeira de puta, sem falar nos espelhos que fechavam sozinhos a mais de
80 km/h.
Depois vinha o problema do mau
uso, de gente que não sabia ao certo para que aquelas alavancas todas, uma das
quais ficava até mais perto da mão que a do câmbio. Sei de gente que estourou o
diferencial andando bloqueado no asfalto e pior, sem saber!
Atualmente, temos o problema
agravado, pois não se ouve falar do Niva novo, difícil de vender por causa do
preço agravado pela alta do dólar e por uma incompetente e equivocada
classificação tarifária, e os Nivas no mercado são usados e, portanto, sua
compra requer cuidados que a maioria das pessoas não tem.
Para agravar, se você compra de
quem nunca fez trilha nem andou na terra arrisca-se a comprar um carro bonitinho,
mas prejudicado pelo mau uso. Pra comprar de um jipeiro (melhor opção na minha
opinião) é preciso tomar outros tipos de cuidados, porém mais óbvios e, com uma
certeza: o jipe era usado de forma certa e eventuais modificações sempre visam
otimizar seu desempenho.
Uma parte do preconceito que
alguns Niveiros se queixam de sofrer vem deles mesmos que se sentem diminuídos
por terem um jipe mais barato e menos potente e por isso tornam-se mais
vulneráveis a gozações e brincadeiras.
Sinceramente: não conheço nenhum
Niveiro que tendo adquirido seu jipe conscientemente e com calma e critério para
não embarcar em canoa furada, sinta-se humilhado ou discriminado por tê-lo.
Vejo com preocupação é a estratégia elitista de algumas concessionárias de
jipões mais caros (Lands, Pajeros, etc) que organizam copas, passeios e outras
atividades exclusivas para proprietários de veículos de sua marca. Imagino o
que isso faz na cabeça de pessoas que se preocupam com "status" e
frescuras congêneres...
Concluindo, se você gosta de
off-road e não quer ou não pode investir num jipão importado ou mais caro, compre
um Niva, ele tem muito mais méritos do que limitações, e não tenha medo de ser
feliz.
Tenho dito!
Para saber muito mais sobre o Niva, convido você a se inscrever em meu canal do YouTube.
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